sábado, 27 de outubro de 2007

NATUREZAS DIVERSAS

Quatro iniciativas refletem a variedade de ações ecológicas

Por Marcelo Barreto

re-edição Samir Raoni

De onde surge a motivação para um projeto socioambiental envolvendo jovens? A diversidade de práticas mostra que ela pode estar em qualquer um dos elementos da natureza. Da água, veio a inspiração para um grupo de universitários de Sergipe. Em 2003, Ano Internacional da Água Doce, eles criaram o Cepecs - Centro de Pesquisas e Estudos Científicos e Sociais. Da terra, ou da defesa de um pedaço dela, nasceu o Grude (Grupo de Defesa Ecológica), do Rio de Janeiro. Do fogo do sol, que queima o chão do Nordeste brasileiro, surgiu a necessidade de jovens cearenses e piauienses de encontrar uma fonte de renda sem depredar a reserva onde vivem. E pelo ar veio a notícia de que o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) precisava de um parceiro para trazer ao Brasil a bem-sucedida iniciativa do GEO Juvenil. O Grupo Interagir, de Brasília, abraçou a oportunidade.
São quatro histórias de conquistas, mas também de dificuldades. Mateus Fernandes, coordenador nacional do GEO Juvenil Brasil, destaca a dificuldade de realizar a última etapa do projeto: transformar o relatório em livro. No premiado Projeto Natureza Jovem – Protetores da Serra, as conquistas não se contam em números impressionantes, mas caso a caso. “Cinco jovens foram aprovados no vestibular e um deles se empregou numa rádio-escola”, festeja Marcela Saldanha, bióloga da Associação Caatinga.
É também de grão em grão que o Grude vai aumentando sua rede de agentes socioambientais. “Recebemos dois ou três pedidos por dia de uma cartilha de formação que enviamos por e-mail”, conta o diretor-adjunto Sérgio May. E às vezes nem é preciso olhar para fora para enxergar as conquistas. “Nosso resultado também é avaliado pela mudança provocada nos próprios jovens do movimento”, diz Carlos Eduardo Silva, diretor administrativo do Cepecs Brasil.
Veja a seguir mais detalhes dos projetos.

Projeto Natureza Jovem, da Associação Caatinga – Ceará e Piauí
Quando se fala em brinquedo de papel machê, é mais fácil se lembrar de uma música de João Bosco (com letra de Capinam) do que pensar num projeto socioambiental. Mas foi na técnica artesanal que inspirou o poeta que o Projeto Natureza Jovem – Protetores da Serra encontrou uma maneira de aumentar a auto-estima e as possibilidades de geração de renda de 75 jovens das comunidades de Tucuns, Barro Vermelho, Poty e Ibiapaba (em Crateús, Ceará) e Jatobá (na vizinha Buriti dos Montes, Piauí), todas localizadas na área da reserva natural de Serra das Almas.
As flores de papel machê foram tema de um curso de capacitação oferecido em parceria com o Sebrae e, por sugestão dos próprios jovens, se transformou numa iniciativa econômica local. “Eles não tinham perspectiva de emprego. Agora, estão cadastrados pela Secretaria de Artesanato do Ceará e expõem seus trabalhos em Fortaleza”, conta Marcela Saldanha, da Associação Caatinga. Mas este foi apenas um dos cursos oferecidos pelo projeto, na tentativa de abrir um mercado de trabalho com base nas possibilidades oferecidas pela reserva: educação ambiental, viveiro florestal, condutores de trilhas ecológicas e até informática.
Mais de 130 jovens já cursaram também 85 oficinas, com temas como meio ambiente, biodiversidade da caatinga, lixo e reciclagem, teatro, pluralidade cultural e elaboração de projetos. O sucesso levou à conquista do Prêmio Von Martius pela Associação Caatinga, que já planeja estender o projeto a mais seis comunidades.

Centro de Pesquisas e Estudos Científicos e Sociais - Sergipe
O Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março de 2003, era a gota que faltava para fazer transbordar o desejo de ação social de nove universitários de Sergipe. Três dias depois, eles se reuniam para idealizar o Cepecs (Centro de Pesquisas e Estudos Científicos e Sociais). Uma das primeiras realizações foi a I Semana do Terceiro Setor de Sergipe, seguida de outras ações locais.
Os debates sobre as Políticas Públicas de Juventude, no ano seguinte, levaram o Cepecs a se espalhar pelo Brasil. “Já atuamos em nove estados”, diz o diretor Carlos Eduardo Silva, um dos fundadores do Cepecs, que em 2005 já reunia 90 jovens num congresso nacional de empreendimentos sociais sustentáveis. “Ao fim de cada ano, repensamos nossa missão e nossa visão. Agora, decidimos fortalecer nossa atuação local”. Hoje, o Cepecs está envolvido no zoneamento socioambiental de Sergipe, com unidades operacionais para atuação junto às comunidades em seis áreas.
O grupo também se empenha na capacitação da juventude socioambientalista e investe na articulação socioambiental, participando de conselhos que debatem questões antes restritas aos adultos. “Eles ainda estranham a presença dos jovens nos conselhos. Mas estamos ocupando o nosso espaço”, diz Carlos Eduardo. A realização mais recente foi o I Fórum Nordestino de Ecoturismo, para debater o papel dessa modalidade de turismo no combate à desertificação do Nordeste. Foi mais um passo num caminho que virou lema do Cepecs: construir sociedades sustentáveis.

Projeto Agente Jovem, do Grude – Grupo de Defesa Ecológica – Rio de Janeiro
Em 1986, um grupo de amigos de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, se reuniu para lutar pelo aproveitamento de uma área verde num terreno que pertencia a construtoras imobiliárias. Dessa semente brotaram dois frutos: a área se transformou no Bosque da Freguesia e os amigos continuaram se reunindo, dando origem ao Grude (Grupo de Defesa Ecológica). Nesses 20 anos de atividade, o Grude desenvolveu dezenas de projetos.
Um dos mais recentes, o Projeto Agente Jovem, investiu na educação socioambiental de 475 jovens de 19 comunidades atendidas pelo Favela-Bairro, um programa de revitalização urbana da prefeitura. “Muitas comunidades eram dominadas pelo tráfico. Quando se envolviam no projeto, os jovens se sentiam importantes, não mais por terem uma arma na cintura, mas porque sentiam que o trabalho tinha valor para a comunidade”, conta Sérgio May, diretor-adjunto do Grude. “Com o tempo, fomos nos profissionalizando e nos tornamos uma referência. Chegamos a atender mil jovens por ano”, conta.
Hoje, o grupo se dedica também à capacitação de professores na área do Parque Estadual da Pedra Branca, o maior parque urbano do mundo. O objetivo é semelhante ao do Agente Jovem, embora o público seja diferente: investir na formação de agentes ambientais. Tanto os jovens das comunidades atendidas pelo Favela-Bairro quanto os professores da área do parque (que atendem cerca de 600 alunos) ganham uma capacitação que depois fica com eles, a serviço da população local.

Geo Juvenil - Nacional

Em 1995, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), criou um conjunto de relatórios batizado de GEO, sigla em inglês para Perspectivas do Meio Ambiente Global. A participação dos jovens no processo de construção do informe foi tão intensa que fez surgir o GEO Juvenil, publicação-referência com impressões, dados, análises, metodologias e fazeres políticos.
Um exemplo perfeito de protagonismo juvenil, que passou por Argentina, México, Peru e Uruguai antes de chegar ao Brasil, sob a responsabilidade de membros do Grupo Interagir, organização de jovens sediada em Brasília e que se dedica também à causa ambiental. “Desde a realização da Eco-92, temos uma qualidade diferente no movimento ambiental brasileiro”, diz Mateus Fernandes, coordenador nacional do GEO Juvenil Brasil. “Sem menosprezar o que foi feito em outros países, a publicação brasileira tinha de ser diferente”. A versão brasileira tem 260 páginas, mais do que o dobro das publicações latinas.
O projeto teve seis fases: passou pela estruturação, pela formação de jovens focais (responsáveis por percorrer o Brasil colhendo impressões ambientais em áreas rurais e urbanas), pelas atividades nos estados, pela criação artística, pela reunião editorial. “O trabalho dos 60 jovens focais sensibilizou mais de 15 mil pessoas”, diz Mateus. “As quatro mil impressões levantadas no trabalho já estão registradas em CD-ROM e precisam também passar para o papel”, diz Mateus.

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