A falta de espaços para participar é sentida por Thiago Pereira Barros, 22 anos, estudante de Ciências Biológicas na Universidade Estadual de Caratinga, em Minas Gerais. “Há muitos jovens na faculdade interessados em movimentos ecológicos, mas quase não há ONGs aqui”, diz. A preocupação dele é com o desenvolvimento sustentável. “Os agricultores precisam ser orientados para produzir sem devastar. Eles acabam cometendo o delito, apesar de serem multados pelo Ibama, porque sobrevivem disso e não entendem o mal que estão causando”, afirma. “O governo não pode punir, se não ensinar. Faltam campanhas de conscientização”.
Na tela da TV
Para a pesquisadora Samyra, uma explicação para o aumento do interesse dos jovens por ecologia é o crescimento do assunto na TV. O fato repercute mesmo em comunidades distantes dos centros urbanos. “Vemos nos telejornais as queimadas destruindo matas em vários lugares. Não há preocupação com a natureza, que é de todos”, afirma Carline Alves, 19 anos, que vive na aldeia indígena da tribo jenipapo-kanindé, em Aquiraz, a 45 km de Fortaleza. Lá, a Petrobras patrocina o projeto Educação Integral para a Sustentabilidade, coordenado por Jeovah Meireles, professor do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, que promove o turismo ecológico comunitário com jovens. O local está sofrendo o impacto da construção de hotéis. “Há dois anos, desenvolvemos atividades para preservar o ecossistema e a sobrevivência da etnia”, diz Jeovah, que criou com os jovens o Projeto Trilha de Índio. Eles fizeram ecozoneamento, produziram mapas com atrações, como a lagoa Encantada, para vender aos turistas, e foram treinados para ser guias em trilhas ecológicas. Hoje, arrecadam em média R$ 12 com cada turista, caminham para a autogestão e pedem cursos para ter mais informação. Na aldeia, Carline, que concluiu o ensino médio, dá aulas para a quarta série. Segundo ela, o projeto ajudou os moços que, sem perspectivas, se entregavam à bebida e pensavam em deixar a aldeia. Agora, todos estão conscientes da necessidade de preservar. Mas sofrem com a morte de peixes causada pela poluição industrial. Já levaram denúncias à Funai e há processos na Justiça. “Eles não entendem que usamos a água da lagoa para tomar banho e que o peixe faz parte de nosso sustento”, diz. Além disso, a Encantada é um dos atrativos do Trilha de Índio. “Há lendas sobre ela que tentamos preservar”.
Ações organizadasNos centros urbanos, onde a pesquisa do ISER mostra maior interesse e disposição dos jovens para participar, há um número maior de grupos ambientalistas, como a ONG Argonautas, de Belém do Pará. “Ao entrar aqui, os jovens participam de jogos de interação com conceitos ecológicos. Na militância, desenvolvem calendário de ativistas, organizam mobilizações em ruas e praças”, diz Marcello Augusto Aponte, 33 anos, coordenador do programa de educação ambiental da ONG. Um dos ativistas da Argonautas é Samir Raoni Pinheiro Silva, de 18 anos, que cursa o segundo ano do ensino médio e há três anos coordena o grupo Ações Jovens Ativistas do Meio Ambiente, sensibilizando as pessoas para atitudes como não jogar lixo na rua e racionar o uso de água e energia elétrica. “Os mais jovens são interessados porque se preocupam em construir um futuro melhor. Mas os mais velhos não estão nem aí”, afirma. Samir reclama que os políticos não aprovam, nos orçamentos, projetos socioambientais no Pará. “Belém é uma cidade suja e poluída. Faltam fiscais para evitar desmatamentos e há muita corrupção. Fazemos as denúncias. O que mais podemos fazer?”, pergunta. “Em vez de viver em harmonia com a natureza, o homem parece um vírus destruindo uma célula”, diz.
Educação verde
Os programas de educação ambiental implantados nas escolas estaduais também resultaram na maior conscientização dos jovens, mostrada na pesquisa do ISER. “Há conteúdos nas aulas que estão afetando os alunos”, diz Samyra. Os participantes de Coletivos Jovens – formados em 2003, para a implantação da Agenda 21 – prestam serviços para as Secretarias de Educação. Maciel Batista Paulino, 21 anos, que cursa o terceiro ano de Engenharia Florestal na Universidade Federal do Paraná, faz parte do CJ de Curitiba. Com mais nove jovens, encarrega-se da educação ambiental em colégios e promove encontros regionais. “Nunca a situação do meio ambiente foi tão discutida, e também nunca se desmatou tanto”, afirma Maciel. “Mas vejo cada dia mais jovens sensíveis aos problemas ambientais”. Maciel é crítico em relação às atitudes de desperdício. “Com pequenas ações, pode-se mudar muito. Sempre carrego comigo uma caneca para não precisar usar copo descartável que, além de poluir o ambiente, é feito de petróleo, uma matéria-prima que está se esgotando”, diz. Na opinião dele, a educação ambiental na escola deve abranger todas as disciplinas. “Se há um projeto de juntar latinhas, o professor de matemática trabalha com cálculo, o de ciências com a composição do material e o de geografia ou história com a origem. Isso ajuda a conscientizar”, afirma. A pesquisa do ISER mostra que a consciência ecológica dos jovens também se expressa no consumo. “Eles compram uma camiseta de algum projeto, como Tamar, ou produtos orgânicos, ecologicamente corretos e étnicos”, diz Samyra. Mas, devido ao preço, consomem pouco. É a reciclagem de produtos que desperta mais o interesse juvenil (79%), seguida da economia no consumo de água e de energia. “Há consciência de que esses recursos são finitos”, afirma a coordenadora. A estudante da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Letícia Yumiy Ono, 18 anos, mora em um condomínio de classe média em São Paulo, onde recentemente foi implantada a coleta seletiva de lixo e se interessou pelo processo de reciclagem. “Em casa, sempre economizamos água e energia elétrica, mas vejo que pouco se faz para reduzir os danos ambientais”, diz. Durante um intercâmbio na Dinamarca, em 2000, ela passou por um constrangimento. “Joguei pilhas usadas no lixo e levei uma bronca das pessoas de lá. Eu não tinha idéia dos danos que a pilha causa na natureza”, conta a jovem, que faz parte da ONG Children International Summer Village. Ela não conhece no Brasil organizações ambientais com temas de seu interesse. “Eu me preocupo mais com o lixo e com os desmatamentos na Amazônia”, diz.
Matéria publicada na Edição 7 Revista ONDA JOVEM - Março de 2007 - Meio Ambiente